terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A CONJURAÇÃO ANTICRISTÃ

CAPÍTULO XXVI

O SUPREMO ATENTADO

Nosso Santo Padre, o Papa Leão XIII, após ter-se aplicado, na sua Encíclica sobre a Franco-maçonaria, em explicitar a doutrina, os projetos, os atos, os progressos, o poder dessa seita, exorta todos os bispos do mundo “a empregarem todo o zelo para fazer desaparecer o impuro contágio do veneno que circula nas veias da sociedade e a contamina por inteiro”; e indica-lhes, nestes termos, o principal meio a utilizar para essa finalidade: “Posto que a autoridade inerente ao Nosso cargo impõe-Nos o dever de traçar-vos Nós mesmo a linha de conduta que estimamos como melhor, Nós vos diremos: Em primeiro lugar, ARRANCAI À FRANCO-MAÇONARIA A MÁSCARA COM QUE ELA SE COBRE E MOSTRAI-A TAL QUAL ELA É”.
Continuando a obedecer a essa resolução, temos agora que mostrar o mais audacioso atentado que a seita jamais concebeu e tentou perpetrar.
Dois meses após ter tomado em suas mãos o timão da Loja suprema, Nubius explicava-se assim a Volpe (3 de abril de 1824): “Carregaram nossos ombros com um pesado fardo, caro Volpe. Devemos chegar, mediante pequenas intervenções bem dosadas, ainda que muito mal definidas, ao triunfo da idéia revolucionária ATRAVÉS DE UM PAPA”. Nubius pensava que um tal projeto não poderia ter sido concebido e que os meios a serem empregados para realizá-lo não poderiam ter sido dados senão pelo próprio Satã, porque ele acrescenta: “Esse projeto sempre me pareceu de uma concepção sobre-humana”. Com efeito, não havia, para ter idéia de uma tal empresa, senão aquele que já tinha levado sua audácia mais alto ainda, posto que fora dirigida contra o próprio Eterno.
Ele não esperara até à constituição da Grande Loja para inspirar tal plano.
Na época em que a maçonaria inglesa propagou a seita em toda a Europa, estabelecendo as lojas que deviam preparar a Revolução, o deísta inglês Toland imprimiu secretamente em 1720 e divulgou sob grande mistério um livro estranho
escrito em latim, intitulado Pantheisticon.¹ Nele diz, nestes exatos termos: “Muitos membros das solidariedades socráticas² encontram-se em Paris, outros em Veneza, em todas as cidades holandesas, principalmente em Amsterdã, e mesmo, espantemonos, na corte de Roma” (p. 42).
Em 1806, um militar, Jean-Baptiste Simonni, tendo lido a obra de Barruel,escreveu-lhe de Florença uma carta na qual diz que, tendo estabelecido relações com os judeus em Piemonte no momento em que esse país estava em revolução, para ganhar-lhes a confiança e conhecer seus segredos, persuadiu-lhes que tinha nascido em Livorno de uma família judia e que, apesar de cristão exteriormente, fora sempre judeu de coração.
Eles se abriram com ele, pouco a pouco. Eis o que ele guardou de suas conversas: a seita judaica é hoje a mais formidável potência, se considerarmos suas grandes riquezas e a proteção da qual ela goza em quase todos os Estados da
Europa. Parece em tudo separada das outras seitas, mas realmente não o é. Basta que uma delas se mostre inimiga do nome cristão para que ela a favoreça, a assalarie e a proteja. Juntamente com todos os outros sectários, os judeus formam uma única facção para aniquilar, se fosse possível, o nome cristão. Manés e o Velho da Montanha saíram da nação deles. Os franco-maçons e os iluministas foram fundados por eles. Na Itália e na Espanha ganharam para a causa deles uma multidão de eclesiásticos, assim regulares como seculares, prelados, bispos e mesmo cardeais. Eles não desanimam de ter um Papa no seu partido Prometem ser os donos do mundo em menos de um século. Para tanto, destruirão a família dos Bourbons; à força de dinheiro e de cabalas esperam obter de todos os governos um estado civil; e então, possuindo os direitos de cidadãos, como os outros, comprarão terras e casas, e, através da usura, conseguirão despojar inteiramente os cristãos, fazer de suas igrejas outras tantas sinagogas e fazer sua seita reinar sobre as ruínas de todas as outras.
Barruel teve inicialmente o pensamento de publicar essa carta, mas raciocinou em são juízo que aquilo que nela se encontrava escrito exigiria provas impossíveis de produzir. Contentou-se, pois, em apresentar o original ao cardeal Fesch, para ser comunicado ao Imperador, que acabava de convocar o sinédrio em Paris. Desmaretz, ocupado com as buscas dos judeus por ordem do Imperador, quis guardar o original; Barruel não o permitiu e enviou-a ao Papa. Alguns meses mais tarde, Sua Santidade escreveu-lhe por intermédio do abade Tetta, seu secretário, que “tudo anunciava a veracidade e a probidade daquele que tinha assim descoberto tudo aquilo de que ele tinha sido testemunha”. Por ocasião da Restauração, Barruel encaminhou uma cópia dessa carta a Luís XVIII.
Queremos guardar aqui apenas o que ali está dito sobre o futuro Papa, que os judeus aguardavam, e colocar isto na perspectiva da missão dada a Nubius.
Para animar a coragem daqueles aos quais fora confiada a obra titânica de fazer triunfar a idéia revolucionária através de um Papa, as Instruções Secretas pintavam um quadro tão sedutor do poder pontifício, quanto verdadeiro, verdadeiro em si, sedutor para quem tinha o desejo e a esperança de dele se apoderar em seu benefício: “Pelo braço, pela voz, pela pena e pelo coração de seus inumeráveis bispos, padres, monges, religiosos e fiéis de todas as latitudes, o Papado encontra abnegações incessantemente prontas ao martírio e ao entusiasmo. Em toda a parte em que lhe agrade evocar isto, ele possui almas que morrem, outras que se dedicam a 
ele. É uma alavanca imensa, cujo poderio apenas alguns Papas apreciaram. Ademais, não a usaram senão em uma certa medida”. Os conjurados, falando dessa maneira, apenas resumiam a história. Em todas as suas páginas ela descreve a fé dos cristãos na instituição do divino Mestre, sua confiança cega naquele que Ele fez Seu vigário e que fala em Seu nome, seu devotamento absoluto ao Pontífice, que ocupa o lugar de Cristo entre eles. Que alguns dentre os Papas, na hora das grandes crises da Igreja, não tenham tido fé bastante neles mesmos, ou melhor, na virtude de Jesus Cristo de que estavam investidos, é possível. Isto sucedeu a Pedro no lago de Genesaré: como ele, eles então sentiram as ondas se abrirem sob seus pés até que seus olhares, transportando-se para o divino Salvador, nEle encontraram, com uma renovação de fé, um aumento do vigor e da caridade divinos.
Mostrar aos membros da Grande Loja o poder da ação pontifical era pouco para o Conselho Supremo das sociedades secretas; o importante e o difícil era fazê-los acreditar que poderiam chegar a se apoderarem dessa ação e de colocá-la em proveito do objetivo final da seita, “aquele de Voltaire e da Revolução Francesa: o aniquilamento para sempre do catolicismo e mesmo da idéia cristã”.

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