sábado, 28 de maio de 2011

A ARTE DE MENTIR


 No jornalismo há muitos tipos de fraude. O mais banal é ofuscar os leitores com um título, na esperança de que não leiam a matéria ou não percebam que ela o desmente.
“A maioria das armas do crime teve origem legal”, proclama O Globo de 4 de outubro. No cérebro do leitor, a conclusão é instantânea: o grosso da violência no Brasil não é causado pelos criminosos assíduos, mas por pessoas de bem que “matam por motivos fúteis”. Urge portanto desarmá-las. Desarmar os bandidos é secundário.
No texto, a informação, baseada numa pesquisa da polícia carioca, não é bem essa: é que, “de um total de 86 mil armas apreendidas de criminosos desde 1999, 33% eram do chamado estoque legal — com registro... Outras 39% eram do estoque informal — originalmente pertenciam a pessoas sem antecedentes criminais, mas nunca foram registradas. Apenas 28% tinham origem criminosa... Do total de armas registradas, cerca de dois terços pertenciam a pessoas físicas, um terço ao Estado (polícias, Forças Armadas etc.)”.
Basta você ler com atenção e a fraude embutida salta do pacote gritando: “Surpresa!”, como aquelas garotas do bolo de aniversário nos filmes de máfia. Armas sem registro não provêm do comércio lícito. Estão fora da lei. Classificá-las eufemisticamente de “informais” não modifica em nada a sua condição. Portanto, 67 por cento das armas apreendidas eram ilegais. Sessenta e sete? Nada disso. Dos 33 por cento restantes, um terço pertencia ao Estado. Sobram 22 por cento de armas lícitas roubadas. Setenta e oito por cento das armas usadas na prática de crimes ao longo de seis anos eram de origem ilegal. Exatamente o contrário do que diz o título.
O jornal ainda reforça a informação errônea explicitando a sua conclusão, para maior didatismo do engano: “Para Rubem César Fernandes, do Viva Rio, a pesquisa é um argumento único a favor do desarmamento no Brasil.” Único no sentido de ímpar, inigualado, lindão mesmo.
Aí o engodo aparentemente simples do título sobe às alturas de uma fraude lógica requintada. Pois aqueles 22 por cento abrangem somente armas de origem legal que passaram às mãos de criminosos. Não incluem de maneira alguma as que permanecem em poder de seus donos legítimos – aqueles mesmos cidadãos de bem que matam por nada, por frescura, em transes repentinos e inexplicáveis. Se estes e não os bandidos, segundo o discurso desarmamentista, são os responsáveis pela maior quota de crimes com armas de fogo, então é óbvio que, quanto mais armas são roubadas dessas perigosas criaturas e postas a serviço da bandidagem, mais diminui o poder de fogo da parcela mais perigosa da sociedade. O roubo de armas, nessa perspectiva, é uma ajuda providencial que os delinqüentes dão à manutenção da ordem pública. A análise do discurso desarmamentista revela implacavelmente essa premissa maior oculta. O desarmamentista coerente, em busca de um “argumento ímpar” para a proibição do comércio de armas, o encontraria portanto num índice baixo, e não alto, de armas legais roubadas. O índice é realmente baixo, como o demonstra a pesquisa. Mas a premissa maior é imoral e absurda demais para ser declarada em voz alta. Para tornar o silogismo digerível é preciso então uma dupla camuflagem: inverter as proporções no título e em seguida convocar o sr. Rubem César para tirar delas uma conclusão também invertida. Tudo parece lógico e veraz, quando é completamente irracional e falso.
É que a inverdade, por si, às vezes não pega. Para aumentar sua aderência é preciso acrescentar-lhe uma dose de absurdo. Não basta mentir: é preciso estontear a vítima para que, mesmo percebendo vagamente a mentira, não consiga discerni-la da verdade.
***
“João Figueiredo: Missão Cumprida”, coletânea organizada por Gilberto Paim, com colaborações de Paulo Mercadante, Jarbas Passarinho e outros (Rio, Escrita, 2005), é um ato de coragem. É preciso uma lucidez destemida para admitir o que no fundo todo mundo sabe: que, comparado a Lula, Figueiredo foi um ótimo presidente.

Olavo de Carvalho, filósofo, Jornal do Brasil, 6 de outubro 2005

sexta-feira, 27 de maio de 2011

CEM ANOS DE PEDOFILIA


Na Grécia e no Império Romano, o uso de menores para satisfação sexual de adultos foi um costume tolerado e até prezado. Na China, castrar meninos para vendê-los a ricos pederastas foi um comércio legítimo durante milênios. No mundo islâmico, a rígida moral que ordena as relações entre homens e mulheres não raramente foi compensada pela tolerância para com a pedofilia homossexual. Em alguns países isso durou pelo menos até o início do século 20, fazendo da Argélia, por exemplo, um jardim de delícias para os viajantes depravados (ler as memórias de André Gide, "Si le grain ne meurt").
Em todos os lugares onde a prática da pedofilia recuou, foi a influência do cristianismo - praticamente sozinho - que libertou as crianças a esta regra horrível.
Mas isso teve um preço. É como se uma corrente subterrânea de ódio e ressentimento havia passado por dois milênios de história, aguardando o momento da vingança. Esse momento chegou.
O movimento de indução à pedofilia começa quando Sigmund Freud cria uma paródia erótica dos primeiros anos da vida humana, uma versão que é facilmente absorvida pela cultura do século. Desde então, a vida familiar parece cada vez mais, no oeste imaginando, como uma panela de pressão de desejos reprimidos. Nos filmes e na literatura, as crianças parecem não ter nada para fazer, mas para espionar a vida sexual de seus pais pelo buraco da fechadura, ou se engajar nos jogos eróticos mais surpreendentes.
O potencial politicamente explosivo da idéia é colocar em breve em uso por Wilhelm Reich, psiquiatra comunista que organiza na Alemanha um movimento pela "libertação sexual da juventude", que depois foi transferido para os EUA, onde ele irá constituir o que é talvez a principal idéia e poder por trás das rebeliões estudantis dos anos sessenta.
Enquanto isso, o Relatório Kinsey, que hoje sabemos que era uma fraude em toda a linha, demole a imagem de respeitabilidade dos pais, mostrando-lhes para as novas gerações, quer como hipócritas sexualmente doentes ou libertinos como fingir.
O advento da pílula e de preservativos, que os governos passam a distribuir alegremente nas escolas, soa como um convite à libertação total do erotismo infanto-juvenil. Desde então, o erotismo da infância e da adolescência se expande dos círculos acadêmicos e literários para a cultura de classes média e baixa, através de uma infinidade de filmes, programas de TV, "grupos de encontro", cursos de orientação familiar, os anúncios, o nome dele. A educação sexual nas escolas torna-se uma indução direta de crianças e jovens à prática de tudo o que viu no cinema e na TV.
Mas até que ponto a legitimação da pedofilia aparece apenas em insinuações, escondido Entre as demandas gerais, que traga-o como conseqüência implícita.
Em 1981, entretanto, "Time" anuncia que os argumentos pró-pedofilia estão ganhando popularidade entre conselheiros sexuais. Larry Constantine, um terapeuta de família, proclama que as crianças "têm o direito de se expressar sexualmente, o que significa que eles podem ou não podem ter contato sexual com pessoas mais velhas". Um dos autores do Relatório Kinsey, Wardell Pomeroy, pontifica que o incesto "pode ​​às vezes ser benéfico".
Sob o pretexto de combater a discriminação, representantes do movimento gay são autorizados a ensinar nas escolas os benefícios da prática homossexual. Quem quer que se oponha a eles é estigmatizado, perseguido, demitido. Num livro elogiado por J. Elders, ex-secretária de saúde dos EUA (o cirurgião geral - aquele mesmo que faz advertências apocalípticas contra o tabagismo), a jornalista Judith Levine afirma que os pedófilos são inofensivos e que a relação sexual de um menino com um pregador pode até ser uma coisa benéfica. Realmente perigoso, diz Levine, são os pais, que projetam "seus medos e seu próprio desejo de carne infantil em que molester mítica das crianças".
Organizações feministas ajudam a desarmar as crianças contra os pedófilos e armá-los contra a família, divulgando a teoria monstruosa de um psiquiatra argentino segundo a qual pelo menos um em cada quatro meninas é estuprada pelo próprio pai.
A maior consagração da pedofilia vem em uma edição de 1998 do "Psychological Bulletin", órgão da American Psychological Association. A revista afirma que o abuso sexual na infância "não causam dano intenso de uma forma generalizada", e, além disso, recomenda que o termo pedofilia, "carregado de conotações negativas", ser alterado para "intimidade intergeracional".
Seria impensável que tal uma revolução mental enorme, espalhando por toda a sociedade, poupasse miraculosamente uma parte especial do público: os padres e seminaristas. No seu caso, adicionou à pressão externa, houve um estímulo muito especial, bem calculado para agir desde dentro. Em um livro recente, "Adeus, bons homens", o repórter americano Michael S. Rose mostra que, durante três décadas, as organizações gay em os EUA têm vindo a colocar suas pessoas nos departamentos de psicologia dos seminários para fazer a entrada do postulantes vocacionalmente dotados e forçar mais difícil a entrada maciça de homossexuais no clero. Nos seminários mais importantes, a propaganda homossexual tornou-se ostensiva e estudantes heterossexuais foram forçados por seus superiores a apresentar à conduta homossexual.
Acuados e sabotados, confundidos e induzidos, é fatal que, mais cedo ou mais tarde, os sacerdotes e seminaristas muitos acabam cedendo à orgia geral infanto-juvenil. E, quando isso acontece, todos os porta-vozes da cultura "liberada" moderno, todo o establishment "progressista", os "progressistas" da mídia, todos os poderes, portanto, que ao longo de cem anos foram stripping filhos de sua aura proteger do cristianismo para entregá-las à cobiça de adultos perversos, repentinamente se alegrar, porque encontraram um inocente em que para colocar toda a culpa sua.Cem anos de cultura de pedofilia são todos, de repente, absolvidos, limpos, pago antes do Todo Poderoso: o único culpado por isso é ... celibato clerical! Cristandade vai agora pagar por todo o mal que nos impediu de fazer.
Não duvide disto: a Igreja é acusada e humilhada porque está inocente. Seus detratores a acusam porque são eles próprios os culpados. Nunca antes a teoria de René Girard - da perseguição do bode expiatório como expediente para a restauração de uma unidade ilusória de uma coletividade em crise - concluiu patente, tão óbvia, essa confirmação universal e simultânea.
Quem não perceber isto, neste momento, está divorciado da sua própria consciência. Tem olhos, mas não vê, tem ouvidos mas não ouve.
Mas a própria Igreja, se - em vez de denunciá-los - prefere curva-se perante os seus atacantes em um ato de contrição grotesco, sacrificando pro forma de pedofilia de alguns padres, para não ter que enfrentar as forças que foram injetadas em seu interior como um vírus, terá feito sua escolha mais desastrosa dos últimos dois mil anos.

Fonte: Olavo de Carvalho, psicólogo, "O Globo, 27 de abril de 2002".

quinta-feira, 26 de maio de 2011

ADEUS ÁRVORE GENEALÓGICA...

O diálogo simples e curioso narrado abaixo,  pode parecer engraçado, mas nos mostra o desmoronamento da sociedade. A sociedade é o corpo e a família as células. Um corpo só sobrevive se as células forem saudáveis. Células anormais fazem o corpo adoecer e a sua multiplicação leva à morte o organismo.


A sociedade, como um todo, corre o risco de ser infectada por esse cancro social, infecção deliberada, homicida e irracional, por que se deseja que as células doentes/anormais sejam tidas como saudáveis.


Mãe, vou casar! 
Jura, meu filho?! Estou tão feliz! Quem é a moça?

Não é moça. Vou casar com um moço... O nome dele é Murilo. 
Você falou Murilo... Ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?

Eu falei Murilo. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa? 
Nada, não... Só minha visão que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo.

Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo...
Problema? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso.

Você vai ter uma nora. Só que uma nora... Meio macho. 
Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea... E quando eu vou conhecer o meu. A minha... O Murilo?
 
Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido. 
Tá! Biscoito... Já gostei dele... Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui?
 
Por quê? 
Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.
 
Você acha que o Papai não vai aceitar? 
Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade. E olha que espetáculo: as duas metade com bigode.
 
Mãe, que besteira... Hoje em dia... Praticamente todos os meus amigos são gays.
Só espero que tenha sobrado algum que não seja... Pra poder apresentar pra tua irmã.
 
A Bel já tá namorando. 
A Bel? Namorando?! Ela não me falou nada... Quem é?
 
Uma tal de Veruska. 
Como?
 
Veruska... 
Ah! bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.
 
Mãe !!!...
Tá... tá... tudo bem... Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...
 
Por que não? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.
Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?
 
Quando ele era hétero... A Veruska.
Que Veruska?
 
Namorada da Bel... 
"Peraí". A ex-namorada do teu atual namorado... E a atual namorada da tua irmã. Que é minha filha também... Que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...
 
É isso. Pois é... A Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero... 
De quem?

Da Bel. 
Mas. Logo da Bel?! Quer dizer então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska.
 
Isso. 
Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.
 
Em termos... 
A criança vai ter duas mães: você e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel.
 
Por aí... 
Por outro lado, a Bel... além de mãe, é tia... Ou tio... Porque é tua irmã.
 
Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... Com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.
Só trocar, né? Agora o óvulo vai ser da Bel. E o ventre da Veruska.
 
Exato! 
Agora eu entendi ! Agora eu realmente entendi...
 
Entendeu o quê? 
Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!
 
Que swing, mãe?!!....
É swing, sim! Uma troca de casais... Com os óvulos e os espermatozóides, uma hora no útero de uma, outra hora no útero de outra...
 
Mas... 
Mas uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior... Com incesto no meio...
 
A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso... 
Sei!!! ... E quando elas quiserem ter filhos...
 
Nós ajudamos. 
Quer saber? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...
 
Que...? 
Fazer árvore genealógica daqui pra frente...